Adaptação e
Acolhimento:
Um cuidado
inerente ao projeto educativo da instituição e
um indicador de
qualidade do serviço prestado pela instituição.
Cisele Ortiz 1
Pretendo neste texto propor algumas reflexões sobre o
processo de entrada da criança na escola de Educação Infantil. O acolhimento do
ponto de vista das crianças, das famílias e da instituição, tendo como foco o planejamento
do processo de acolhimento.
Tratar deste tema se justifica por algumas razões advindas
da experiência:
Primeira razão, nos processos de formação de professores
muitas vezes nos deparamos com situação de conflito entre profissionais e
famílias que se forem investigadas com maior atenção são reveladoras de problemas
mal resolvidos desde a entrada da criança na escola.
Segunda, quando questionamos a organização dos grupos
infantis, normalmente há uma queixa muito grande de que as crianças estão
eternamente em adaptação. Uma boa parte das escolas seja pública ou privada, costuma
privilegiar a quantidade de vagas a serem preenchidas em detrimento da relação
que se estabelece entre as pessoas, mudando as crianças de grupo com muita
freqüência diante dos indicadores de desenvolvimento: sentar, engatinhar,
andar, tirar fraldas... dentro deste tópico podemos ressaltar também o excesso
de crianças em um grupo, desrespeitando o tamanho máximo dos grupos e proporção
adulto/criança. Considero esses aspectos como são fatores que interferem num bom
acolhimento.
Terceira, os professores vivenciam o choro das crianças
durante muito tempo, todos os dias, quem vê de fora pensa que eles já se
acostumaram, mas não se acostumaram não com o nível de ruído, de estresse,
etc... Sentem-se cobrados e observados caso a adaptação demore para acontecer,
gerando ansiedade e instabilidade.
Quarta, inexiste o planejamento institucional da acolhida:
Essa prática, embora comum, não está de todo disseminada na educação,
principalmente nas escolas públicas e creches que atendem a população de baixa renda.
Parecem existir ainda resistências em se planejar uma boa acolhida. Podemos
inferir que há por trás disso a idéia de que é um “luxo” destinado aos ricos,
pois a criança pobre não precisa deste cuidado, na medida em que mães e
crianças de baixa renda já estão acostumadas a sofrer, de que qualquer lugar do
mundo é melhor do que suas casas, e que quem precisa do serviço deve se
submeter sem atrapalhar muito.
Se se constatam problemas eles são considerados
como uma “frescura” da criança ou excesso de mimo da mãe. Este preconceito na
verdade revela uma concepção assistencialista, no qual a educação do pobre é
vista como um favor.
Adaptação e política: o
direito a um acolhimento com qualidade
“A educação infantil inaugura a educação da pessoa. Essa educação se dá na família, na comunidade e nas instituições. As instituições de educação infantil vêm se tornando cada vez mais necessárias, como complementares à ação da família, o que já foi afirmado pelo mais importante documento internacional de educação deste século, a Declaração Mundial de Educação para Todos (Jomtien, Tailândia, 1990)” referendado no. PNE do Brasil de 2002.
“A educação infantil inaugura a educação da pessoa. Essa educação se dá na família, na comunidade e nas instituições. As instituições de educação infantil vêm se tornando cada vez mais necessárias, como complementares à ação da família, o que já foi afirmado pelo mais importante documento internacional de educação deste século, a Declaração Mundial de Educação para Todos (Jomtien, Tailândia, 1990)” referendado no. PNE do Brasil de 2002.
O fato é de a escola de educação
infantil já há 15 anos desde 1988 é direito da criança e opção da família. Constituição,
ECA e LDB reforçam a ideia deste direito.
1 Cisele Ortiz é psicóloga e
coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá (www.avisala.org.br)
O fato de não ser uma etapa
obrigatória não deveria desobrigar o estado a proporcionar o acesso universal à
escola infantil e os álibis, que aparecem, são muitos: não é demanda da população,
as famílias preferem deixar seus filhos em casa, não há orçamento aprovado para
isto, a prioridade é o ensino fundamental, etc.etc.etc. Por outro lado sabemos
que a educação infantil é um serviço caro, pois deve haver poucas crianças por
adulto, os ambientes requerem cuidados redobrados e os profissionais devem ser
altamente preparados para a função.
Ora, o custo criança é alto para
o município, pois requer equipamentos adequados, manutenção, formação permanente
dos professores, muitas escolas pequenas e acolhedoras, portanto é melhor colocar
a culpa na família que não demanda o serviço.
Sabemos que é preciso dinheiro
para isso, mas também sabemos por onde ele tem andado até então...
Para que seja de fato opção é
necessário que haja alternativas. O fato é de que as famílias trabalhadoras em especial
as de baixa renda não têm outras possibilidades de atendimento a de seus filhos
que não seja a creche e pré-escola.
Dificilmente encontramos nas
famílias de baixa renda uma justificativa pautada nas necessidades infantis, como
encontramos na família de classe média, que considera importante a criança
conviver com outras crianças, frequentar outros ambientes e se relacionar com
outros adultos.
Os benefícios de se frequentar a
escola desde a mais tenra idade não é tão divulgado quanto seus malefícios e na
verdade são poucas as pesquisas consistentes a respeito até mesmo por que
algumas vezes nos deparamos também com a variável qualidade da escola, e do que
ela tem a oferecer para os pequenos.
Há situações em que é a escola é
muito ruim e não garante o essencial.
Conhecemos experiências em outros
países em que a sociedade começa a se responsabilizar de fato pelo cuidado e
educação das crianças pequenas e é possível frequentar apenas a praça para
poder tomar sol e brincar com outras crianças com a disponibilidade de um
educador para tal, ou frequentar uma biblioteca pública acompanhada de um
adulto duas ou três vezes por semana e encontrar um atendimento especializado para
a faixa etária, assim como também acontece com brinquedotecas, atelier de
artes, salas de música.... O atendimento não é tão formal e a criança pequena
pode ir com sua mãe, pai, avó ou irmão mais velho.
Infelizmente não está na pauta de
nossos governantes, e não é prioridade nacional, discutirmos a maneira como
educamos nossas crianças e o que temos a oferecer para elas. O déficit de
equipamentos públicos para a faixa etária de 0 a 6 anos é de fato vergonhoso
para um país como o Brasil.
Por outro lado penso que também
há uma relação de poder entre as pessoas que se encontram em diferentes patamares,
ou seja, entre os dirigentes de escolas e suas equipes técnicas e as famílias,
pois dificilmente o fato de uma família procurar uma boa escola para seus
filhos pequenos é visto como uma expressão de um direito seu como cidadã, ela
tem que se contentar com o que existe e da maneira como está organizado.
Entre adaptar-se e ser
acolhido - conceituação
Assisti a um filme muito
interessante “A Língua das Mariposas” de José Luiz Cuerda, que recomendo a todos
os educadores, que conta a história de um menino que conduzido pelo seu
professor, convicto de que a liberdade é o maior bem que um ser humano pode
ter, descobre o mundo do conhecimento em todas as áreas da vida de uma maneira,
sensível, humana e real. No entanto o filme é ambientado na Espanha nos anos 30
e Moncho, o menino, perde a sua inocência com o advento do regime de Franco.
Logo no início do filme há uma
cena que provavelmente conhecemos ou ouvimos falar Moncho perde a sono ao
imaginar como será a sua escola, já que irá para a escola pela primeira vez. No
meio de muita expectativa, ansiedade e medo, Moncho busca referências em seu
irmão mais velho, que pouco o ajuda.
A psicanálise é o conjunto de
teorias formuladas por Sigmund Freud (neuropsiquiatria austríaco - 1856/1939) e
seus discípulos, no qual há a valorização do inconsciente que se manifesta
independente de nossa vontade. A psicanálise nos ajuda a compreender o
desenvolvimento infantil do ponto de vista das emoções.
No dia seguinte é conduzido por
sua mãe que o apresenta ao professor, ela demonstra muita preocupação e pede
que o professor auxilie o seu “passarinho”, sem perceber que está expondo a
fragilidade do menino publicamente. As crianças com muita crueldade e incapazes
de lidar com este estranho zombam do menino, que também é asmático e precisa
usar uma “bombinha”. Moncho, sentindo-se muito acuado e rejeitado, perde o
controle sobre suas emoções e acaba por fazer xixi na calça. Daí para frente só
mesmo assistindo ao filme.
Esta situação muito me chamou a
atenção, porque acho que as crianças vivenciam a entrada na escola muitas vezes
assim, com toda esta intensidade e é nosso papel enquanto educadores atenuar ao
máximo os efeitos que a separação casa/escola gera em crianças pequenas.
“Há muito tempo atrás nas creches
e pré-escolas e até mesmo nas escolas de ensino fundamental, parecia não haver
outro jeito: ou as crianças se adaptavam ou se adaptavam”. A mãe “precisava”
trabalhar e a criança “precisava” ficar na creche.
Os primeiros dias em uma instituição
educacional eram visto como um mal necessário pelo qual toda criança deveria
passar. A ideia que mais cedo ou mais tarde a criança acabaria se acostumando,
o que de fato acabava acontecendo, fazia parte do senso comum. Sofrimento,
insegurança, desamparo e outras possíveis decorrências deste processo eram
desconhecias e por vezes ignorados.
“A lembrança dos primeiros dias
de escola, faz parte do universo de lembranças da maioria dos educadores quando
tratamos desta questão, nem sempre boas geram importantes reflexões sobre o
processo de adaptação.”
“Lentamente, a educação passou a
incorporar as descobertas derivadas da psicologia e em especial da psicanálise,
que se preocupavam com os sentimentos, as emoções, a individualidade, a
construção da identidade e o processo de socialização. As escolas que atendiam
as crianças de classe média e alta foram as primeiras a repensarem o processo
de entrada da criança na escola através da formulação de procedimentos específicos.
Desde então, inúmeras propostas têm sido implementadas visando receber a criança
e sua família da melhor forma possível. Todas elas compartilham do princípio
que a entrada na escola pode gerar estresse nos envolvidos, criança, família e
profissionais da educação, podendo, no entanto, ser suavizado ao máximo, através
de um planejamento cuidadoso e da antecipação de intercorrências.”
“Propomos aqui discutirmos alguns
aspectos deste processo, já que ele possui estas múltiplas dimensões, visando
considerá-lo como um cuidado inerente ao projeto educativo da instituição e
como um indicador de qualidade do serviço prestado pela instituição.”
“A adaptação pode ser entendida
como o esforço que a criança realiza para ficar, e bem, no espaço coletivo, povoado
de pessoas grandes e pequenas desconhecidas. Onde as relações, regras e limites
são diferentes daqueles do espaço doméstico a que ela está acostumada. Há de
fato um grande esforço por parte da criança que chega e que está conhecendo o
ambiente da instituição, mas ao contrário do que o termo sugere não depende
exclusivamente dela adaptar-se ou não à nova situação. Depende também da forma
como é acolhida.”
“Considerando a adaptação sob o
aspecto da necessidade de acolher, aconchegar, procurar o bem estar, o conforto
físico e emocional, amparar, amplia significativamente o papel e a responsabilidade
da instituição de educação neste processo.”
“A qualidade do acolhimento é que
garantirá a qualidade da adaptação, portanto não se trata de uma opção pessoal,
mas de compreender que há um interjogo de movimentos tanto da criança como da
instituição dentro de um mesmo processo.”
“Nesta última década, após a
Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, lei de Diretrizes e
Bases da Educação e mais recentemente o Referencial Curricular Nacional de
Educação Infantil, todos afirmando o direito da criança a uma educação de
qualidade, não dá mais para imaginar a criança fazer parte da creche, sem que
se planeje a qualidade do acolhimento”.
“O acolhimento pode ser enfocado
de diferentes pontos de vista.”
• das famílias que compartilham a
educação da criança com a creche/pré-escola;
• da criança, do significado e
emoção que é passar de um espaço seguro e conhecido, para outro em que é necessário
um investimento afetivo e intelectual para poder estar bem;
• do professor que recebe uma
criança desconhecida e ainda tem as outras do grupo para acolher
• das outras crianças que estão
chegando ou que fazem parte do grupo e precisam encarar o fato de que há mais
um, para repartir, mas também para somar.
“• da instituição, nos aspectos
organizacionais e de gestão, que prevê espaço físico, materiais, tempo e
recursos humanos com competência para esta ação.”
“O acolhimento traz em si a
dimensão do cotidiano, acolhimento todo dia na entrada, acolhimento após uma temporada
sem vir à escola, acolhimento quando algum imprevisto acontece e a criança sai
mais tarde, quando as outras já saíram, acolhimento após um período de doença,
acolhimento por que é bom ser bem recebida e sentir-se importante para alguém.
Quando somos acolhidos, bem
recebidos, em qualquer lugar, em geral nossa reação é de simpatia e abertura, esperando
o melhor daquele ambiente daquelas pessoas. Quando ao contrário somos recebidos
friamente, nossa tendência é também ignorar, não se envolver, passar despercebidos.
E o que acontece quando somos mal recebidos? A gente jura não voltar mais
àquele lugar!”
“Por que com a criança e sua
família deveria ser diferente?”
“Se considerarmos que cuidar é
considerar e atender as necessidades infantis, ouvir e observar as crianças, seguir
ao princípio de promoção de saúde, tanto ambiental como física e mental, interessar-se
pela criança, pelo que ela pensa, sente, sabe sobre as coisas, sobre os outros
e sobre si mesma, adotar atitudes e procedimentos adequados e fundamentados em
conhecimentos construídos sobre as diferentes faixas etárias e realidades
sócias culturais, o processo de acolhimento é um dos primeiros a ser objeto de
cuidado em relação à criança.”
“Para a criança entrar na creche,
pré-escola e mesmo na escola significa um processo ativo de construção de novos
conhecimentos e de vínculos. Quando a criança chega à instituição ela já tem
expectativas sobre o comportamento dos adultos, das outras crianças e até mesmo
da forma de se relacionar com os objetos e brinquedos, pois ela já construiu
referências a partir de suas vivências e experiências, mesmo que seja uma criança
bem pequenina, um bebê.”
“Ela precisa de um tempo para que
conscientemente fiquem claro para ela as diferenças entre sua casa e a escola,
assim como para que ela transfira seus sentimentos básicos de confiança e
segurança para alguém. Este tempo é bastante individualizado, algumas crianças
passam por este momento de forma mais rápida, outros mais lenta, não podemos
estabelecer isto a priori.”
“As crianças lidam
fundamentalmente com a ansiedade da separação: a escola tem um papel
fundamental ao estabelecer o corte na relação mãe-filho, e isto pode ser
bastante positivo para ambos, no entanto pode gerar insegurança e fantasias de
abandono e a escola e o professor são o porto seguro da criança nesta situação,
garantindo-lhe o tempo todo através de sua atenção e de atividades adequadas o
quanto elas não serão esquecidas.”
Cisele Ortiz, Entre adaptar-se
e ser acolhido in Revista Avisa Lá, nº 2 (www.avisala.org.br).
“Algumas crianças demonstram
maior confiança e passam a frequentar a escola como se naturalmente já fizessem
parte daquele ambiente; talvez sejam crianças melhor preparadas emocionalmente,
que já tenham vivenciado experiências positivas de separação, ou que esperam
este momento ansiosamente, porque têm outros irmãos que já frequentam a
escola.”
“Mas”, a maior parte das crianças
podem reagir fortemente à separação e há diferentes maneiras das crianças reagirem
a este processo: podem chorar ou ao contrário ficarem muito caladas, podem
agredir a outras, podem adoecer, podem recusar-se a comer, a dormir, a brincar,
é preciso acolher estas manifestações e conhecer a forma de cada um
considerando como natural dentro deste processo e não rotulando a criança a partir
disto. Algumas crianças têm rituais específicos para dormir, comer ou usar o
banheiro, outras usam objetos tais como paninhos, chupetas, brinquedos e ficam
apegadas a elas. Estas coisas têm um significado especial para elas, pois criam
a ilusão de que a mãe ou a pessoa na qual investem afeto estão próximas, lhes proporciona
maior conforto emocional e segurança. Deixar que a criança mantenha seu jeito
de ser, seus rituais e sua rotina individualizada, para aos poucos se ajustarem
ao grupo, proporciona suavidade ao processo sem rupturas bruscas e maior
controle do adulto sobre o processo.
“Conversar a criança sobre seus
sentimentos, sobre a rotina, contar o que vai acontecer com ela, ajudar a
criança a expressar seus sentimentos e valorizá-la enquanto pessoa e promover
sua autoconfiança para lidar com esta situação”.
Alguns indicadores de sofrimento
Outros sinais e indícios, além do
choro, são reveladores do modo de estar na escola: dificuldade de vir para a escola;
dificuldade de separar-se da mãe ou de quem traz a criança para a escola;
rejeitar ser cuidado por outra pessoa; rejeitar alimentação; recusar-se a
dormir; evitar usar o banheiro; recusar participar das atividades propostas;
recusar separar-se de seus objetos de apego, tais como chupetas e paninhos;
ficar apático ou ao contrário muito agitado; bater e agredir outras crianças
sem motivo aparente; ficar doente seguidamente ou desenvolver doenças crônicas
ligadas ao intestino, ou, ao aparelho respiratório; machucar-se continuamente,
entre inúmeros outros que são característicos de cada criança e de sua história
de vida.
Princípios para planejar uma
boa acolhida
a) com o grupo de Professores e
auxiliares de salas
1. Manter a rotina que a criança
pequena tem em casa, no caso de menores de 3 anos, quanto.
aos cuidados específicos. Manter
os rituais para dormir, comer ou usar o banheiro.
2. Para as maiores de 3, explicar
como será o seu dia a dia e colocar a rotina visualmente num quadro, para que a
criança aprenda a controlar os diferentes momentos.
3. Objetos Transicionais ou
objetos de apego – Algumas crianças usam objetos tais como paninhos, chupetas,
brinquedos e ficam apegadas a elas. Estas coisas têm um significado especial
para elas, pois criam a ilusão de que a mãe ou a pessoa na qual investem afeto
estão próximas, lhes proporciona maior conforto emocional e segurança.
4. Valorizar a identidade da
criança, e escolher junto com ela seu escaninho, seu cabideiro, colocando seu
nome e garantindo que aquele lugar ficará disponível para ela todos os dias
para que possam guardar suas coisas.
5. Não ficar ansiosa para que a
criança ajuste sua rotina a do grupo muito rapidamente Deixar que a criança
mantenha seu jeito de ser, seus rituais e sua rotina individualizada, para aos
poucos se ajustar ao grupo, proporciona suavidade ao processo sem rupturas
bruscas e maior controle do adulto sobre o processo.
6. Conversar a criança sobre seus
sentimentos, sobre a rotina, contar o que vai acontecer com ela, ajudar a
criança a expressar seus sentimentos e valorizá-la enquanto pessoa e promover
sua autoconfiança para lidar com esta situação.
7. A inserção das crianças deve
ser feita progressivamente, duas crianças por subgrupo, por semana, sendo que
cada criança inicia em um período do dia (manhã/tarde), o que dá às educadoras
maior disponibilidade no atendimento a cada criança e seu acompanhante.
8. Normalmente uma semana é necessária
para que algum familiar permaneça junto à criança na creche, sendo seu tempo de
permanência, gradualmente reduzido, à medida que aumenta o tempo de permanência
da criança na escola, até este ficar mais tranquilamente período integral, se
for o caso.
9. A professora deve procurar
manter uma rotina estável sem muitas variações para que a criança vá dominando
cada vez a rotina. As crianças aprendem a se localizar no tempo, no espaço e
com as atividades quando a rotina é mantida, além de construir vínculos e se organizar
para a aprendizagem.
10. Organizar cantos de
atividades diversificadas com aquelas que ele sabe que dão mais ibope para
aquela faixa etária específica auxilia o professor a despertar o interesse da
criança pela brincadeira e a se interessar pela escola. Vale também saber quais
as brincadeiras e brinquedos preferidos da criança para introduzi-los neste
momento. Os cantos de atividades podem também favorecer que as outras crianças
fiquem mais livres e brincando entre si, enquanto o professor pode dispensar
uma atenção especial para a criança nova.
11. Considerar o parque como um
espaço de atividade e planejar também intervenções também para este momento. No
verão brincadeiras na areia e na água, bolhas de sabão, lavar roupas de
bonecas, lavar o quintal, regar plantas, e fazer estas coisas com todo o grupo
vão mostrando para as crianças que o ambiente doméstico e o escolar possuem
diferenças e semelhanças. No inverno os jogos motores, as cirandas, os circuitos
e obstáculos, garantem que a criança possa brincar fora e estar aquecida.
12. Propor atividades culinárias
simples: fazer gelatina, pipoca, suco, docinho de leite em pó, salada de frutas
para o lanche ou sobremesa, favorece que a criança perceba a continuidade
temporal.
13. Propor leitura de histórias
como metáforas dos momentos que a criança vive. Pode-se conversar sobre as
histórias falando dos medos básicos de todas as crianças assim é possível que a
criança também se exponha e consiga lidar melhor com seus sentimentos.
b) Com o grupo de cozinheiras e
faxineiras.
1. Valorizar o trabalho da equipe
de apoio;
2. Informar às famílias quem são
estas profissionais e seu papel na instituição;
3. Formar a equipe de apoio da
mesma forma que os educadores quanto ao entendimento, importância e
estruturação no período de adaptação e de acolhimento;
4. Envolver a equipe de apoio na
reestruturação de sua rotina de trabalho durante o período de adaptação;
5. Informar a equipe de apoio
sobre o atendimento às crianças com dietas específicas
6. Auxiliar a equipe de apoio a
planejar um cardápio especial de adaptação
Planejando a adaptação com a família
Ou como preparar os pais para
preparam as crianças e se prepararem para a entrada na escola
O planejamento do acolhimento com
as famílias é de fundamental importância se pretendemos que o nosso projeto
pedagógico seja transparente, respeitoso e de fato complementar a ação da
família. Muitos pais também são de primeira viagem seja na creche ou na
pré-escola e precisam de apoio e orientação. Algumas etapas são requeridas para
que a criança possa iniciar sua vida escolar com sucesso. Sugerimos algumas:
Apresentando a escola
Organizar o trabalho com a equipe
para que ela possa ser acolhedora para receber os visitantes.
Preparar a recepção da escola
para que ela seja acolhedora e informativa. (Murais com fotos do trabalho com as
crianças, informes, trabalhos das crianças, água, cafezinho a disposição deles,
etc.)
Preparar uma pessoa para receber
os pais que querem conhecer a escola e saiba dar todas as informações que eles
necessitarem assim como ter “ouvidos atentos” para as questões específicas que
possam emergir. Dependendo do tamanho e situação da escola este trabalho pode
ser feito caso a caso, individualmente, em pequenos grupos agendados em
reuniões,
No ato de matrícula
Deixar o mais claro possível para
as famílias como a escola funciona.
• Ter um plano de trabalho claro,
conciso que elas possam entender e saibam o que esperar da aprendizagem de seus
filhos a cada momento da vida escolar, tem se revelado fundamental para a
conquista de pais parceiros. Não é apenas um contrato comercial, mas um
contrato de convivência que pode durar muitos anos.
• Além deste programa de trabalho
claro os pais devem ser orientados sobre as normas de funcionamento, horários
de entrada e saída, procedimentos quanto à saúde e nutrição, canais de
comunicação, calendário escolar, formas de acompanhamento do trabalho docente.
Estes dois materiais devem ser
entregues aos pais por escrito, para que possam consultá-los sempre que for
necessário.
• Entregar um questionário
informativo inicial que deverá ser entregue preenchido no dia do retorno a uma
entrevista previamente agendada.
No dia da entrevista inicial
Agendar uma entrevista com os
pais e a coordenação da escola tem 3 objetivos: esclarecer dúvidas sobre a matrícula
e sobre o entendimento da proposta da escola; conhecer melhor a criança e sua
família e estabelecer um vínculo de confiança com os pais.
Muitas escolas têm um longo
questionário, ou fazem uma anamnese com dados muito detalhados e às vezes até
invasivos que vão deixando os pais acuados e ressabiados. Sempre será possível
remarcar uma entrevista e conversar completando aquilo que for necessário.
Concentre-se nas informações que possam auxiliar neste início tanto aspectos da
saúde, como dos hábitos da criança e dos seus relacionamentos. Estes dados são importantes
por que no período de adaptação deve haver uma continuidade dos cuidados e ter
estas informações favorece o planejamento do professor.
Se for necessário no caso de
crianças com necessidades especiais ou que necessitam de um acompanhamento em
questões de saúde uma entrevista com o profissional da área de saúde pode ser
realizada.
Reunião de pais novos.
Podemos convidar todos os pais novos
de um mesmo grupo para uma reunião na qual novamente as dúvidas do projeto
pedagógico e das normas de funcionamento podem ser esclarecidas e outros dados
podem ser complementados além dos pais poderem se inteirar sobre outras
atividades da escola que eles poderiam participar: eventos ligados à atividade
pedagógica e eventos destinados aos pais. Necessariamente a professora, a
auxiliar, o profissional de saúde e a coordenação da escola devem estar
presentes nesta reunião.
Pode ser mais evidenciado neste
momento o modelo de gestão escolar: esclarecer sobre clube de pais, comissões e
representações, etc.
Se a escola tiver um vídeo sobre
algum trabalho realizado com as crianças e professoras em interação pode ser
ilustrativo de como funciona o dia a dia.
E finalmente pode ser planejado
com os pais o período de adaptação propriamente dito, conforme descrevo a
seguir:
Fundamentando para eles sobre a importância do período de adaptação
Ter uma pessoa que se
responsabilize por todo o período de adaptação da criança parece ser
fundamental para uma adaptação inicial eficiente. Esta pessoa, que não precisa
ser necessariamente um dos pais, mas uma avó, tio ou tia, até irmão mais velho,
deve permanecer com a criança durante os primeiros dias de entrada na escola
até que ela se sinta tranquila para aceitar ser cuidada pela professora sem
muitas restrições. Este período varia de criança para a criança, mas, peça que
a pessoa se organize para permanecer pelo menos 4 dias. Embora saibamos que
possa ser um transtorno para a organização familiar, garanta que é por pouco tempo,
mas um tempo que evitará retrocessos na adaptação e favorecerá a construção de
um vínculo com a escola mais tranquilo e seguro, temos certeza e é o que a
nossa experiência comprova.
Orientando e sugerindo como
preparar melhor a criança se:
Falar sobre a experiência que será vivida:
• conversar com as crianças sobre
a nova escola,
• falar o nome da professora e
explicar que é para falar com ela sempre que precisar algo
• contar as possíveis
brincadeiras que podem acontecer
• descrever a rotina
• evitar falar o que desconhece
para não criar falsas expectativas
• não fizer promessas ou
chantagens
Fazer as coisas juntos
• Escolher a roupa que vai para a
escola ou preparar o uniforme
• Preparar a lancheira juntos
• Combinar de fazer alguma coisa
juntos na volta da escola
• Se a criança demonstrar que
quer levar um objeto de casa para a escola deixe, pois pode ser importante para
ela durante esse período de adaptação. Chupetas, paninhos, bonecas ou bonecos
ou brinquedos prediletos, podem auxiliar no processo de separação, por criar um
campo de transição entre a casa e a escola. Lembre a criança de cuidar bem
dele, de colocar o nome, pois a escola não poderá se responsabilizar por isso.
• Levar a criança até a
professora
• Procure chegar sempre com algum
tempo, assim você pode entrar na escola e levar a criança até a professora.
• Procure conversar com a
professora sempre que for necessário, mas lembrar-se de que ela tem outras crianças
na sala.
• Procurar fazer uma passagem tranquila:
aceitar que a criança seja cuidada e conduzida pela
professora apesar de sua presença.
• Se precisar de uma conversa ou
orientação mais detalhadas não existe em procurar a coordenação.
• Se comportar na sala da criança
ou na sala de espera para cortar os laços de dependência.
A escola pode disponibilizar uma
sala de espera para os pais, enquanto as crianças estão no processo de adaptação.
Esta sala serve para as crianças saberem que os pais estão por perto caso
precisem, mas que não estão disponíveis o tempo todo.
A escola poderá deixar os pais
mais à vontade para “dispensar” as crianças caso estas os procurem se tiverem algo
para fazer, como ler um livro, ler um jornal, consertar um brinquedo, ouvir uma
música e ver um filme.
Algumas experiências foram
relatadas de escolas que mantém uma pequena oficina para os pais confeccionarem
brinquedos para as crianças, de forma que eles se sintam mais participantes e
também entretidos.
Faça combinados com as crianças e
procure cumpri-los para que a criança não se sinta “traída”. Falou-se para a
criança que vai precisar sair e voltará em meia hora, volte em meia hora, volte
mesmo, não deixe de fazê-lo.
Procurar se abrir - o processo de
entrada da criança na escola pode gerar dúvidas, incertezas e sentimentos estranhos
com os quais não estamos acostumados a lidar. Nestas situações procure a
coordenadora da escola, pois ela pode auxiliá-los a compreenderem melhor o
processo, a tirar dúvidas e a lidar com alguns destes sentimentos. Evite
conversar com professora sobre isso e principalmente contagiar as crianças com
suas emoções.
Para saber mais
Rossetti- Ferreira, M.C;
Amorim,K.S. e Vitória, T (1997) Integração Família e Creche - O acolhimento é o
princípio de tudo, Coletânea de Saúde Mental/FMRP- USP , Riberão Preto
Brasil, MEC - Referencial
Curricular Nacional de Educação Infantil, 1998
Franciscato, I. - A adaptação da
criança pequena à creche/pré escola , Crecheplan, 1998, (mimeo)
CRESAS, Accueillir à la Creche. À
L’ école. Paris: INRP, L‘Hamattan, 1991
Balaban, Nancy - O início da vida
escolar - da separação à independência Artes Médicas, Porto Alegre, 1988
Freire, Madalena e Davini Juliana
– Adaptação pais, educadores e crianças enfrentando mudanças – Espaço Pedagógico,
Série cadernos de Reflexão, 1999.
Artigos da Revista Avisa Lá :
todas em Jeitos de Cuidar – em especial as números 2 e 5.
Sem dúvidas o acolhimento é de um papel fundamental para um início de boas aprendizagens, e nesse ano não será diferente, ótimos e divertidos momentos de desenvolvimento e evolução a todos, profissionais e crianças!!!!
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